segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

ABORDAGEM PIKLER E A SENSIBILIZAÇÃO DO CUIDADO COM BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS

Por Maria Júlia Sette*

Dos escombros da Segunda Guerra Mundial, nasceu Lóczy. Uma verdadeira flor de lótus em meio à lama suja do pós-guerra. Conduzido pela pediatra húngara Emmi Pikler, o orfanato, homônimo da rua em que está instalado em Budapeste, na Hungria, ganhou fama por revolucionar o cuidado com bebês e crianças pequenas, filhos dos soldados e mães tuberculosas.

O olhar respeitoso da pediatra ao ser humano nos primeiros anos de vida deu origem à abordagem Pikler, também conhecida como “a experiência de Lóczy”. Essa forma de relacionar-se com a criança pequena ultrapassou os muros do Instituto, hoje uma creche, e tem inspirado profissionais de educação infantil em todo mundo.

“Durante a troca de fralda, banho e alimentação, temos a oportunidade de estar junto e nos vincular intimamente com o bebê. Pikler estabeleceu uma coreografia de gestos que contempla a criança pequena como indivíduo, na contramão de uma manipulação descuidada e rápida.”, pontua a pedagoga carioca Maria Lúcia Peçanha que veio ao Recife facilitar o curso de sensibilização sobre: Cuidados e Movimentos na Educação de crianças de 0 a 3 anos, realizado no início de fevereiro, no Espaço Gerar.

Por meio de exposição de vídeos, rodas de conversas e vivências, o curso, promovido pelo grupo Entrelaços da Infância, evidencia a sensibilização na relação do adulto com bebê e a criança pequena em instituições coletivas.

“Quando o adulto fica completamente presente enquanto cuida do bebê, falando, explicando o que está sendo feito e olhando em seus olhos, há uma nutrição afetiva. Desta forma, ele pode ficar tranquilo para brincar autonomamente, evidente que sob a supervisão de um responsável”, explica Lúcia.

A pedagoga afirma ainda que a criança necessita de um adulto como referência. “É muito importante ter um cuidador que seja sua referência de cuidados e atenção. O ideal é que este seja um único, fixo. Sabemos a dificuldade em realizar isso no dia a dia, mas é preciso não desvincular: cuidar de educar. O bebê precisa de estabilidade para criar vínculos”, esclarece.

Livre movimento
“Adiantar posturas é adiantar fracassos”. A máxima da psicóloga argentina Myrtha Chokler traduz um dos pilares da abordagem Pikler.

Deste ponto de vista, o bebê tem tarefas a realizar por si mesmo. É um sujeito ativo em suas descobertas e não, como destaca Peçanha, “uma marionete na mão de um adulto todo poderoso”.

Ao invés de interferir nos movimentos da criança, a abordagem convida o cuidador a observá-la mais e não colocá-la em uma postura ainda não conquistada. Ao alcançar por si mesmo uma nova posição, o bebê é tomado por uma grande alegria. Este esforço, traçado nos primeiros desafios da vida, relaciona-se com a força de vontade e conquista da autonomia.

Para Lúcia, ainda não se sabe muito sobre as crianças pequenas e é urgente que possamos compreendê-las melhor.

“Colocar uma criança pequena, por exemplo, para sentar, olhar para um quadro e fazer lição não é entender de infância. As crianças precisam de brincadeira e movimento e essa deve ser a tônica da educação infantil”, afirma.

Rede Pikler
A Rede Pikler Brasil é um entrelaçado de profissionais, ligados na defesa da infância, motivados a estudar e disseminar por meio de cursos, palestras e vivências a abordagem Pikler em todo país. Para mais informações, visite a rede no Facebook: https://pt-br.facebook.com/redepiklerbrasil

*Maria Júlia Sette é jornalista, mãe de dois filhos, educadora infantil e seminarista do Curso Recife de Fundamentação em Pedagogia Waldorf.